Vidas perdidas

Assisto à bizarrice da morte nos bastidores da minha vida. Observo todos os sorrisos que se foram deste circo. Olho com cautela a jaula dos leões à minha esquerda, feras estas que devoram o mundo com a fome insaciável da destruição. Os mágicos mudam as coisas de lugar. Passam daqui para acolá coelhos, cartas, almas. O mesmo espetáculo é repetido todos os dias durante todos os anos. Algumas interrepções são inevitáveis, mas nunca nos desconectamos de nosso circo da infância. Os palhaços já não têm tanta graça, os leões continuam sedentos, os mágicos não surpreendem. É a rotina da vida. É o apreço aos bons cuidados. Uma soma infinita que tem picos de explosões. A vida é sim afoita e a morte é bizarra. Afoita, pois em todas as curvas da nossa estrada aceleramos. Queremos provar o gostinho de tocar com a ponta dos dedos a sensação de algo sublime. A minha experiência com a morte de pessoas próximas me diz que não há nada correspondente à essa sensação. É apenas o fim de um túnel. E no fim deste túnel está apenas uma reta. Uma reta chata. Vejo a maioria dos que cresceram comigo indo em busca desta reta, afoitamente, antes do tempo. Nem fizeram suas curvas ainda. Deixaram meu circo em falta de palhaços, mágicos, trapezistas, e até leões.

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