Médiuns

Há alguns anos ia seguidamente em um centro espírita para buscar um pouco de paz. Acontece que tive uma oportunidade de frequentar a "escola" para médiuns do tal lugar. O que se passa agora é uma mescal das minhas emoções sentidas na hora e emoções póstumas, que tento relembrar agora:

A branquidão da cena doía os olhos. Todos estavam trajados com roupas brancas, reunidos em um círculo. As mãos dadas, transmitiam uma energia que eu sentia percorrer afoitamente meus braços, dedos e veias. De soslaio, olhava ao redor. A iluminação fraca dava ao recinto um ar macabro, mas ao mesmo tempo proferia certa grandiosidade religiosa à cena. O mestre dos médiuns era um senhor idoso, com seus 60 e poucos anos e quase nenhum cabelo. Era alto, firme em suas palavras e sincero no ollhar. Ele pediu a todos que fechassem os olhos e imaginassem alguma coisa. Eu imaginei um campo verde com flores demasiadamente coloridas. O vento batia de leve no meu rosto. Eu voava. Abri o olho instintivamente e vi que o mestre chegava perto de algumas pessoas e batia na testa delas. Então, como se num passe de mágica, elas iam ao chão e desfaleciam. Segundos depois, encarnavam personagens como se fossem atores. O mestre estava a três pessoas de mim. Suava e tremia frio. Não sabia o que fazer. Me perguntava o que teria de interpretar se ele batesse em minha testa. E tudo foi muito rápido. Quando pisquei, me deparei com uma figura envolta em branco à minha frente. Era o mestre, que bateu de leve com os dois dedos da mão direita sob minha testa. Me senti fraco. Meus braços tremeram, ar me faltou, as pernas bambearam. Fui ao chão. Como se me tivessem mandado participar daquele show de horrores, fiquei em posição fetal e coloquei o dedão na boca. Como uma criança sem colo, só me importava em chupar meu dedo. Permanecia de olhos fechados: não os conseguia abrir. As vozes ao meu redor eram esparsas, sem sentido. Às vezes sentia um cutucão ou minha bochecha sendo puxada. Voltei aos tempos em que era bebê. Deixei essa mágica me levar. Ao mesmo momento em que sentia tudo isso, uma voz pairava sob a minha mente. Ela perguntava se era real tudo aquilo que estava passando. Tentei me levantar, para verificar se era uma farsa ou não. Não tinha força nos pés. Senti arraigado no chão. Como se fosse para eu ficar ali plantado. Ensaiei um choro leve e logo uma mão desconhecido afagou meus cabelos. Procurei um colo, enfiei minha cabeça entre ele e dormi. Sonhei com o campo verde e florido. Sonhei que voava. Um estalar ecoou em meu ouvido e abri os olhos. Todos se levantaram, observados pelos olhos de quem ficou em pé no círculo. O que me passava na cabeça era se tudo foi real ou um sonho. Acho que todos tinham a mesma dúvida, pois nada se falava. Apenas a cara de dúvida era visível em cada um dos rostos ali presentes. Os que viram pensavam se era brincadeira. Os que sentiram pensavam se era real. O irreal se perguntava se nós éramos irreais. Tudo se confundiu. Fiquei aturdido. Não delimitava mais o real do imaginário. Em casa já, deitado em minha cama e refletindo sobre o ocorrido, apaguei a luz para dormir. Decidi não matutar mais sobre a experiência surreal. O sono fechava meus olhos sozinho e me levava à terra da fantasia. Nem pude perceber quando meu dedo encontrou com minha boca e voltei a ser bebê novamente.

1 comentários:

Kakau disse...

Ro, me perco!Será história ou será estória???Ainda quero descobrir...Bjo BB!