Acidente da TAM e outras trivialidades

Não é de agora. É de muito tempo atrás. Sim, o homem não vive o hoje, não se entrega. Ele prepara a sua morte. O homem tenta amealhar o sucesso necessário para ser alguém na hora de seu enterro, não se importando com a pessoa que é ou que se tornou. Ele se preocupa mais com os bens que os outros terão que dividir ao fim de sua vida. Há algo de errado? Acredito que não. Afinal, esta é a cultura do homem. Eu mesmo me vejo juntando dinheiro para comprar algo mais lá para frente. Tá errado. Eu acho.

Já dizia a banda Cidadão Quem: "Olha a luz que brilha de manhã...Saiba que é preciso amar você".

Não ame o resto. Ame a si mesmo. Os outros que estão infelizes é porque não se encontraram com eles mesmos. A vida é complicada. Mas calma: conseguiremos. Não tente viver o futuro agora. Viva o presente. É clichê? Então por que tu não vive o presente? Nós só falamos disso e não praticamos. Eu consigo unir as duas coisas. É facinho. Penso em planos futuros como comprar um carro melhor e terminar minha casa. Junto para isso sem me desfazer do que preciso no presente.
Sabe que às vezes me pergunto se todos os sinais do mundo que aparecem são para mim. Me pergunto: será que aquele post naquele blog é pra mim? será que aquilo é em relação ao meu trabalho? será que eu to fazendo certo? será que é real?
Cansei de acreditar. Dei de queixo. Isso é preocupação demais. Agora só acredito no que é dito diretamente a mim. Só acredito em provas reais. Tá querendo falar algo? Diga na frente da pessoa, olho no olho. Assim é melhor. Acho que a idade aumentando está me deixando mais chato. Mas é que eu sinto que nós complicamos tudo. Nos enrolamos em redes imaginárias. Somos pescados por nós mesmos. Por que não viver livre em seu aquário? Qual o problema em ser um livro aberto e transparente? "Tá com medo de amar é?"
Ame sua vida e tudo ao redor. Assim, as vibrações positivas que tu passar voltarão. Voltarão mais fortes, maiores. Então, se sentirá eternamente bem consigo mesmo.
O que me deu falar nisso? O acidente da TAM, vôo 3054, que ontem completou um ano. Na ocasião, morreram muitos gaúchos. Entre eles Julio Cesar Redecker, político; Paulo Rogerio Amoretty Souza, ex-presidente do Internacional; e uma ex-colega minha. Me detive a estes, pois são os mais conhecidos meus e da opinião pública.
Fui colega de Raquel na cadeira de Escrita Criativa, ministrada por Charles Kiefer. Nunca falei com ela e é por isso o meu pesar. Naquela época não era o tanto sociável que sou hoje. Foi um belo exemplo. Fico chocado em como para mim na época ela era indiferente à minha perspectiva. Hoje, penso que poderia ter ao menos conhecido um pouco de sua vida. Uma garota jovem. Um talento para a escrita. Talvez fosse a hora de ela dizer adeus ao mundo. O que sei é que ela não teve muitas oportunidades de realizar seus anseios antes da morte. O que sei é que ela se foi como uma sombra, como um caderno em branco. O lápis estava em sua mão e partiu-se. Os óculos do escritos, apoiados na mão esquerda, caíram no chão assim que o braço pendeu da poltrona.
O sono domina o escritor e ele se entrega. Recorre ao mundo dos sonhos, outro mundo. O papel que era preparado para começar uma história encontra-se em branco.
Apenas um rabisco indicando o começo: Capítulo 1.