O vento levantava o vestido de leve, mostrando um pouco acima dos joelhos. Soprava o vento, teimando em deixar a carne aparecer. Os olhos a acompanhavam. O tempo parava. Tudo ficava
As mãos limpavam a testa, respingando o suor. O queixo ia de encontro ao fim do cabo da vassoura e o fazia como escora. Era um espetáculo. Seu Nicanor certo dia pegou o jovem olhando o outro lado da rua, sem varrer. Como não era um chefe autoritário, seu Nicanor resolveu checar o porquê de tudo aquilo. Parou ao lado do jovem e perguntou o que se passava. O jovem por sua vez apontou para o outro lado da rua. E ela, deslumbrante, saía com seu vestido rosa de todas as quintas-feiras. Trabalhava logo em frente à tenda. Seu Nicanor esfregou os olhos. Parecia até miragem. Abanou-se um pouco. Deve ser esse sol escaldante, pensou. Seus olhos estáticos. O torpor era tanto que espantou a mosca que pousou em sua testa com um reflexo parecido de um bêbado. Estava bêbado. Bêbado de quê?
A magia pairava no ar. Ajeitava os queixos caídos e inspirava as narinas. Os dois então suspiravam. Por um milésimo de segundo olhou para o Jovem. Balbuciou algo que só o Jovem entenderia, pois estava no mesmo encantamento.
– Por que ela está ali parada? – Perguntou seu Nicanor, que, com o balanço da cabeça do Jovem mostrando a dúvida, fez outra pergunta.
– Por que diabos você nunca me chamou?
Seu Nicanor pensou nas horas perdidas de visão daquele espetáculo. Nos minutos. Nos segundos. Ia despedir aquele Jovem. Não prestava pra nada, nem pra avisar. Seu Nicanor voltou a cabeça a tempo de ver o vento em ação, desmistificando outro pedaço da bela. E nisso ouviu:
– Ei, seu Nicanor! Me vê uma cervejinha!
Era o Tino e sua cervejinha da tarde. Só que dessa vez ficaria pra mais tarde a cerveja... (continua)
Escutando: Isn't She Lovely, Stevie Wonder (clique no play abaixo para ouvir)
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